sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

cortaram a arvore do Diabo

Maléfico (voz tremula)

É com pesar e a alma pejada de sombrios pensamentos que lhe dirigo estas linhas.

Hoje é um dia menor para nós, aqueles que seguimos a ordem da Estrela da Manhã (faltou-lhe esta na lista anterior). Hoje, somos menos um do que seremos amanhã, quando compensarmos os 2 que desapareceram ontem o que acaba por representar apenas 1, se virmos a coisa numa perspectiva do presente, ie, perdemos mas ganhamos de certa forma em numero mas não em quantidade e nem tão pouco em qualidade, que sobe efectivamente.

Cortaram a árvore do Diabo...

Passo a explicar: Em frente ao local onde estão situadas as instalações onde exerço a minha actividade de fachada diária, há um grande terreno arborizado que por ser pequeno sempre foi alvo da minha atenção.
Nesse terreno, vulgo terreno, há arvores! Nada de extraordinário não fosse uma pequena particularidade, por entre as mais variadas espécies arborícolas, todas elas eucaliptos, que proliferam nesse terreno de dimensões medias, havia uma que sempre mereceu especial atenção desde seu grande amigo, e amigo de todos os animais como são estes simpáticos e imóveis vegetais.
Essa uma, que sendo especial, se destacava das demais, apresentava características muito próprias e era isso que precisamente fazia dela uma entre iguais.
Esse ser enraizado, apresentava dimensões excepcionais e era completamente desprovida de folhagem! A sua rude casca era completamente coberta por musgos e outros fungos que pendiam como farrapos. Os seus ramos contorcidos davam-lhe um aspecto fantasmagórico e demoníaco, que obviamente não me passou despercebido desde o primeiro dia em que tomei contacto visual com tão assustador presença. Chamei-lhe "a árvore do Diabo" por razões óbvias, bem entenderá.
Parecia estar ali a vigiar a passagem de todos, em nome daquele que bem sabemos e a lembrar-nos que as forças do oculto estão sempre presentes.
Todos os amaldiçoados dias, lhe lançava um olhar seguido uma qualquer praguejar e de um sorriso de cumplicidade. Afinal ambos trabalhamos para o mesmo negro lado.

Eis que esta manhã me apercebo do atroz destino que os anjos celestiais reservaram para este nosso colega do mundo da clorofila.
Estava a ser decepada pela base por uns infiéis pseudo-trabalhadores da câmara, ao serviço da luz branca.

Acorri num impto ao local na esperança que a minha demoniosa presença os assustasse e os impedisse de prosseguirem! Mas era tarde... o fiel amigo jazia em pedaços no chão, desmembrado de toda a sua anterior dignidade.

Aleguei aos inferiores seres que iriam ser punidos nas chamas do Inferno, mas o mais que consegui foi que me permitissem trazer comigo os restos mortais que para ali sobejavam. Ainda fiz intenção de os transladar para a M.I. mas após cuidada medição de todas as componentes, acção para a qual recorri à denominada técnica da fita métrica, e fazendo diversos cálculos mentais algo complexos, conclui que iria precisar de uma infinidade de viagens de ida e volta para concluir o ritual de retirada dos restos mortais do mártir abatido do campo de batalha!

Então pensei, e passo a citar: "oh que se lixe", e não pensei mais no assunto.

3 comentários:

Maléfico Patético disse...

mafarrico,

não sei bem o que tire da sua narrativa, não conhecia o referido colega que laborava no lado mais vegetal da batalha (lado a que não presto grande atenção)

se por um lado compreendo a sua angústia ao ver um companheiro, que o acompanhava todos os dias, ser brutalmente massacrado, desmembrado , feito em pedaçinhos e, muito provavelmente, mais tarde, queimado

por outro lado, e de uma forma muito objectiva, devo perguntar qual de entre nós se deixa abater assim pelos inimigos paspalhos munidos de serras de corte? Não estaria a "árvore do diabo" a dormir um bocadito em vez de trabalhar? O desleixo dá nisto ... Que seja um aviso para todos nós! Descuramos o trabalho, vamos para a esplanada e logo aparecem uns anjinhos idiotas, à la "Texas Chainsaw Massacre" e nessa altura "Óh Tio! Óh Tio!" (mais uma para a lista).

É um aviso!
Um Warning! (como dizem lá para os lados das ilhas galápagos)

Se pensar mais no assunto, olhe, pense que o nosso colega está agora nas profundezas do Inferno, num qualquer jardim infantil, pacatamente esperando a próxima reencarnação.

um fim de semana incrivelmente malvado,
M.P.

\m/afarrico disse...

Patético Maléfico,

Grato pelas suas palavras de ânimo e desespero! Como já os antigos afiançavam à laiga de comentario jocoso "...com inimigos destes, quem precisa de amigos?"!!!

De facto à que relativizar as circunstancias em que tais eventos que relatei tiveram lugar. Após brevissima analise e posterior e instantanea reflexão sobre a sua agradavel resposta, concluo que de facto, o arboricola comparsa estava a dormir (pelo menos a tirar um cochilo) e portanto permitiu a sua propria captura, o que é um crime entre nós. Fosse ele um ser falante e ficariamos sem saber que vitais segredos teria ele confessado sob tortura ao inimigo. Morreu, e foi o melhor para todos nós os que não morreram.

Esperemos então que ele esteja prestes a reencarnar, e daqui lhe envio os meus sinceros desejos que tenha mais sorte desta vez. Algo mais movel como uma lesma, seria uma boa forma de recomeçar sem grandes atropelos.

Cumprimentos vulgares (aperto de mão mole),
Mafarrico

Diabolicus disse...

Incrível esta história de decepação de um amigo da Masmorra, ou pelo menos um fiel seguidor dos seus princípios, apesar de não andar muito, é certo, estou convicto que o tronco ou árvore em questão espalhava destruição à sua volta, quem sabe através das suas raízes cheias de fungos e outras maravilhas que tais.

Sublime a descrição, visível a dor de quem queria dar um fim digno a um companheiro.

Mas, eis que me ocorre: tantas palavras elogiosas juntas, não serão elas próprias um atentado??

Vale a pena pensar nisto..mas só se não tiver mesmo nada pra fazer.