sexta-feira, 30 de abril de 2010

Feira de atrocidades - M.M. ao vivo

Esta noite deu-se mais um concerto a que assisti no âmbito dos concertos "óqueselixebousozinho". Foi o segundo no espaço de uma semana e a verdade é que já me sinto um veterano neste tipo de espectáculos. Desta vez o mote era a apresentação do novo disco dos amigos Mão Morta - Pesadelo em Peluche.

Dirigi-me pela primeira vez na minha vida ao Coliseu dos Recreios, quando Aquilani marcou o primeiro golo da sua equipa estava dado o sinal para Maléfico se dirigir ao imponente edifício. Maléfico entrou, viu e ficou agradado com o espaço, sirandou um pouco pelo recinto e apanhou a costumeira seca monumental dos concertos "óqueselixebousozinho".

A massa humana estava composta por variadíssimos tipos de gente e em bom número, pelo que se adivinhava um espectáculo com o bom ambiente já associado a Adolfo e seus companheiros de palco, que para lá subiram e se lançaram sem demoras a dois clássicos : Oub'lá e E Se Depois - foi talvez o momento em que se notou mais entusiasmo do público, se duvidas houvesse quanto a adoração pelas musicas ancestrais desta banda elas estavam dissipadas e o colectivo podia assim avançar para a apresentação de músicas mais recentes. Fizeram-no com Teoria da Conspiração e Penitentes Sofredores, duas musicas de qualidade do seu mais recente álbum, que foram afectadas pelo mau som que emanava das colunas, refreando desta forma o ânimo dos fãs.

Uma pausa para mais uma preferida do publico, foi a vez de Tu Disseste, com a audiência a entoar desenfreadamente o costumeiro "NADA!!!", um pouco fora de tempo mas sempre agradável, antes de retornarmos ao recém-nascido Pesadelo Em Peluche com um trio de canções - O bonito Seio Esquerdo De R.P., Fazer de Morto (com Adolfo a explicar-nos que tal prática é "salutar e higiénica") e, por fim Como Um Vampiro. Debruço-me sobre esta última para partilhar o meu desagrado com a versão que está gravada no disco, a participação especial de Fernando Ribeiro nas vozes não é do meu agrado. No entanto sempre me pareceu, e disse-o várias vezes (se calhar foi só uma), que uma versão ao vivo e só com Adolfo a vocalizar poderia tornar esta música em algo muito interessante. O que aconteceu ontem? O Morcegão Luso himself subiu ao palco e conseguiu estragar a musica igualzinho ao que estraga no CD.

Depois disto dir-se-ia que as coisas só poderiam melhorar, mas a sucessão de Budapeste com Novelos Da Paixão estenderam um pouco o ponto baixo do concerto, digamos que não foi um ponto, foi uma linha. Ainda me lembro de Adolfo aqui atrasado num concerto responder aos pedidos incessantes de "BUDAPESTE BUDAPESTE!!!" com "Budapeste? Matem esse gajo!", mas pronto, ultimamente a musica voltou aos alinhamentos e nós perdoamos, o Morcegão é que pode ficar em casa da próxima.

Tardes de Inverno continuou a apresentar o novo Pesadelo, que ficou bastante bem apresentado, em grande estilo. E a partir daqui foi um desenrolar de clássicos e favoritos, quando soam os primeiros acordes de Em Directo (para a teelvisão) perdoa-se tudo o de menos bom (alguns enganos pelo meio) e a sucessão de Amesterdão, Barcelona, Vamos Fugir, Cão da morte e o pesadissimo Anarquista Duval voltam a trazer o entusiasmo e até algum frenesim à audiência. Com músicas destas qualquer concerto de Mão Morta é um espectáculo imperdível.

Fez-se o truque do encore e quando Pesadelo em Peluche parecia já estar a descansar a banda brinda-nos ainda com dois temas de lá retirados. Tiago Capitão e Paisagens Mentais. Tiago Capitão é uma daquelas musicas de excelência que na primeira audição se torna um clássico instantâneo, uma musica fenomenal que ao ser apresentada pela primeira vez ao vivo viu o seu coro entoado pelos presentes numa prestação magnifica. O ponto alto da noite e, quer-me parecer, uma música que não abandonará mais o set-list. O disco apresentado estava arrumado e ainda havia tempo para mais um clássico, o nosso amigo Canibal apresentou 1º de Novembro e o público agradeceu entoando a musiquinha a ela associada.

Encore 2 - e a banda reentra com a música que, para mim, melhor representa o que são os Mão Morta, a selvagem Quero Morder-te As Mãos. Eu já estava satisfeito mas o público pedia insistentemente, e até um pouco histericamente, a Lisboa (talvez por estarmos em Lisboa e eles serem lisboetas, não sei) mas o vocalista anunciou uma "anestesia geral" e a banda lançou-se em Velocidade Escaldante. Não desesperem, há tempo para mais uma, os pedidos de Lisboa ainda se ouvem em peso, Mão Morta são uma grande banda, em comunhão com os fãs e despedem-se com a excelente Charles Manson. No fim houve vénias e aplausos, não houve uma apoteose como já foi visto em anteriores concertos mas houve muitas caras satisfeitas por mais uma grande noite na companhia de Adolfo e seus companheiros.

Ao chegarmos à rua damos de cara com o néon e cartazes cor de rosa do La Feria. Ironia? Pesadelo em Peluche estava apresentado.

sábado, 10 de abril de 2010

Kylesa + Dark Castle + ... Technotronic (?)

Prezados colegas,

Optei por este formato a dois tempos, na elaboração deste post, uma vez que me parecem relevantes os factos que aqui serão referidos.
Num primeiro momento, a meio do evento que teve lugar no palco do Porto Rio, e enquanto assistia a um épico concerto dos Dark Castle seguidos dos Kylesa, usando apenas o artefacto movel de comunicações à distância, do qual sempre me faço acompanhar, escrevi as palavras que se seguem:

"Mais um momento inédito na Masmorra. Estou em pleno concerto dos Kylesa no Porto Rio. Uma espécie de hard-core com toques de sludge. Os Dark Castle, um dueto, estão algures entre os Satyricon e os Isis. A vocalista é assustadora."

Este concerto, foi mais um marco na minha já vasta experiência neste tipo de ocorrências infernais. Um local confinado no porão de um barco, escuro e repleto de fumos das mais diversas origens, uma plateia de humanos cobertos das mais alternativas indumentarias, que se acotovelavam para conseguir um vislumbre sobre as bandas em acção no minúsculo (e baixo) palco. Uma energia frenética que percorria toda aquela massa corporal e a fazia agir como de uma só entidade se tratasse. Enfim, o habitual.




De notório, o facto de os vocalistas de ambas as bandas serem na verdade as vocalistas, senhoras portanto, de os Kylesa terem no seu line-up dois bateristas, o que lhes confere uma sonoridade poderosíssima, há que dizê-lo e de os Dark Castle serem simplesmente um duo de bateria e guitarra.



Este ultimo, foi acima de tudo o facto mais relevante. É que sendo uma banda de doom com toques de sludge, têm um som muito denso e pesado, para o qual normalmente as bandas recorrem às virtudes do baixo, que dá a sensação de estrutura e consistência às suas composições. Ora os Dark Castle conseguem tudo isso recorrendo às capacidades técnicas da sua vocalista/guitarrista, que para além disso tem uma voz de rouxinol. Mas de um rouxinol que tenha sido previamente preparado e treinado no mais profundo dos infernos. São sons do mais gutural que tive a oportunidade de ouvir, os que saem da garganta da Sra. Stevie Floyd. Quanto ao outro elemento, o Sr. Rob Shaffer, estava totalmente possuído na forma como se entregava à artes rítmicas. Muito bom.
No final e precisamente antes de me ausentar, tive a oportunidade de cumprimentar tão ilustres praticantes das artes negras, e perante a reverência e reconhecimento que percebi nas suas indiferentes reacções, adquiri-lhes mesmo uma rodela plástica de seu nome “Spirited Migration” e que mais tarde vim a perceber tratar-se do seu álbum, o que muito apreciei.

Alem disso, ainda me confiaram um autocolante com a especial recomendação que o entregasse ao Maléfico (que esteve ausente) e que este rejeitou sem grande emoção (esteve bem a meu ver).
Quanto aos Kylesa, eram os Senhores da noite. Toda aquela corja se deslocou quase exclusivamente para testemunhar a sua prestação, tal é a fama que gozam por entre os círculos musicais por onde se movem.
Mas devo dizer que me desiludiram. Não por isto ou aquilo, mas porque sim. Esperava algo diferente daquilo que na verdade era o que eu esperava. Os Kylesa são na verdade uma banda do chamado hard-core, meio punk meio sludge, mas nem uma coisa nem a outra. O povo adorou e passou-se completamente. O barco praticamente adornou por diversas vezes, tal era a movimentação no seu interior, mas o principal elemento de todo este cenário, Mafarrico, esperava outra coisa e saiu de lá com um encolher de ombros e cuspindo um suficiente por entre dentes.
Mas a grande lição da noite ainda estava para vir.
Sabeis bem que um Demónio não tem virtudes, só defeitos, e portanto é muito difícil enaltece-las. Ainda assim julgo ser esta uma ocasião para incutir em todos vós grande admiração pela tenacidade, versatilidade e espírito de sacrifício de Mafarrico (eu).
Pois não é que, pouco mais de uma hora após o terminus da prestação musical dos Kylesa, ainda com os seus ritmos a troarem na minha mente e o auto-colante para o Maléfico na mão, vejo-me por razões que me dispenso a explicar, em pleno Teatro Sá da Bandeira.
Sabeis vós o que se passava em tão nobre espaço e que tantas alegrias já nos deu?
Pois não sabeis não. Tratava-se de uma festa de celebração ao em tempos famoso Cais447, onde actuavam os não menos famosos Technotronic (ou pelo menos os que ainda não morreram da idade).
E foi assim que, por entre uma segunda dose de massa humana e uma nova torrente de decibéis, este vosso herói permaneceu estóico e firme enquanto era bombardeado com temas como “This Beat Is Technotronic”, “Pump Up The Jam”, "Move That Body" ou mesmo “Hey Yoh, Here We Go”.

O facto de o ambiente recriado estar desfasado uns 20 anos da actual realidade, não pareceu incomodar a populaça de trintões que se entregava freneticamente a este exercício de retrospectiva, dança e saudosismo. Tenho para mim que, o facto de já não terem 15 anos, terá causado em muitos lesões musculares, que demorarão o seu tempo a passar.
Épico, só vos digo isto.
Lições? Um Demónio nunca recebe lições pois já domina todos os temas que se lhe deparam. Mas desafios os prezados colegas, a tirarem daqui as ilações que o Sr. Satanás pretendeu que chegassem até nós.

Com os melhores cumprimentos,
\m/

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ele há coincidências... parte III

Estava eu em amena pasmaceira num longinquo retiro transmontano, quando fiz o que costumo fazer nestes tempos de ócio - uma sessão tripla de filmes visualizados no suporte que melhor se adequar ao local.

No final desta tripla visualização, calculei que o armazenamento de filmes não vistos se aproximava do fim, uma nova sessão tripla seria mesmo impossivel, dado que o número de filmes visualizaveis não ascendia a mais do que dois.

Nada de pânicos, no dia seguinte tratei de adquirir (por vias legais, asseguro-lhes e um demónio nunca mente) uma catrefada de filmes louvados pela critica e que pensei serem dignos de ser vistos pelos meus olhos, ouvidos pelas minhas orelhas e apreciados pelo meu cérebro.

Entre estes filmes encontra-se Network, um filme de Sidney Lumet, realizado em 1976, vencedor de vários prémios mas com uma grave lacuna, o nunca ter sido visualizado por Maléfico.

No mesmo dia em que "adquiri" a referida pelicula, chego ao meu covil e encontro na caixa do correio, qual brinde infernal, um pacote enviado pelos compinchas da Amazon. Uma rodela plástica engravada com os sons emanados pelos Mouth Of The Architect num conjunto de peças a que deram o nome colectivo de "Quietly". Não conhecia nada deste trabalho, encomendei-o porque faço ideia de ir ao espetáculo de luz e som a realizar-se daqui a uma quinzena, onde este será apresentado com a presença dos próprios autores (cada um com o seu respectivo instrumento).

É aqui que se dá a tremenda coincidência, coisas como estas são obra do nosso Maior com certeza. Duas obras tão distantes na sua forma e no seu tempo, chegam ao meu domínio no mesmo dia e têm um pormenor que as liga. O Sr. Satanás quer que pensemos nisto.

Um bom pedaço da sétima arte usado da melhor forma para abrilhantar uma excelente música.



I don't have to tell you things are bad. Everybody knows things are bad. It's a depression. Everybody's out of work or scared of losing their job. The dollar buys a nickel's work, banks are going bust, shopkeepers keep a gun under the counter. Punks are running wild in the street and there's nobody anywhere who seems to know what to do, and there's no end to it. We know the air is unfit to breathe and our food is unfit to eat, and we sit watching our TV's while some local newscaster tells us that today we had fifteen homicides and sixty-three violent crimes, as if that's the way it's supposed to be. We know things are bad - worse than bad. They're crazy. It's like everything everywhere is going crazy, so we don't go out anymore. We sit in the house, and slowly the world we are living in is getting smaller, and all we say is, 'Please, at least leave us alone in our living rooms. Let me have my toaster and my TV and my steel-belted radials and I won't say anything. Just leave us alone.' Well, I'm not gonna leave you alone. I want you to get mad!