quinta-feira, 10 de julho de 2008

relatos da vida de um Demónio


Prezados parceiros,

Avançados que estamos em plena Silly Season, eis chegado o momento certo para um breve interlúdio para que possamos desanuviar um pouco da grandeza e gravidade dos temas recentemente expostos.
Decidi assim fazer uma breve referência literária a uma obra de um colega nosso: Norman Mailer, que se findou para este mundo há coisa de 8 meses.

A obra que terá a honra de aqui ser mencionada responde pelo nome de “The castle in the forest” e tem uma particularidade interessante: o que um vulgar leitor consideraria uma obra de ficção é para nós uma espécie de relatório (um pouco romanceado) duma missão de vulto levada a cabo por um ilustre colega.

Trata-se da narração, na primeira pessoa, do trabalho de um Demónio a que Satanás incumbiu a árdua missão de acompanhar Adolf Hitler desde a sua génese e durante a infância, de forma a assegurar que fossem atingidos os resultados previamente estipulados. O colega, de nome Dieter, acaba por se revelar a paginas tantas e vai-se assumindo em trechos como os que se seguem:

Sim, sou um intrumento. Sou um agente do Demónio. E este instrumento de confiança acabou de cometer um acto de traição: não é admissível revelarmos quem somos” (ainda estava um pouco confuso nesta fase)

Vou tentar dar, então, uma pequena explicação sobre estes dois Reinos, o Divino e o Satânico. (…) É desnecessário acrescentar que nós os demónios somos confrontados diariamente com uma hoste formidável de anjos (decidimos chamar-lhes bastões).

Embora essas forças rivais não sejam estranhas a qualquer pessoa que tenha lido Paraíso Perdido, observaria que muitos de nós somos muito versados nos clássicos da literatura. Não posso falar pelos anjos, mas os demónios são obrigados a devotarem-se à boa escrita. Milton, por conseguinte, está bem cotado nos nossos arcanos dos poucos artistas literários que não temos de considerar como sendo inexoravelmente de segunda categoria.

(…) os Demónios ao serviço do Maestro já não vão para a guerra em falange contra os anjos. Em vez disso, estamos artificiosamente instalados por esta altura em todos os recantos da existência humana.

Há ainda uma passagem demasiado extensa para que a transcreva aqui, onde o nosso colega relata os eventos ocorridos a 18 de Maio de 1846 num descampado nos arredores de Moscovo aquando da coroação do Czar Nicolau II.
Aí, seguindo um plano detalhado pelo próprio Maestro, um conjunto de demónios leva ao motim de um conjunto de esfarrapados camponeses que resulta na prevista morte de milhares de pessoas que haviam acorrido ao local para participar nas festividades, e assim manchar de vermelho e desgraça uma cerimónia patrocinada e protegida pelos referidos bastões.

Enfim, uma boa leitura de fim-de-semana (aprox 500 paginas) onde podemos atestar das dificuldades de missões como as nossas.
Voltemos então à Silly Season, agora que está completo este périplo literario.
Demoniosamente me despeço,
\m/

2 comentários:

Maléfico Patético disse...

excelente mafarrico excelente

de si não esperava sillizices, sealizices talves, mas sillizices não

excelente referencia literária, de um autor fora de série que, surpreendentemente (ou talvez) se revela um de nós (ou não). Não conheço este relato mas fiquei curioso e vou ler (ou nao, pq a curiosidade matou o gato(e eu tenho um gato(e nao gostava que ele morresse mal eu entrasse em casa com o livro(faz-me companhia, sabe(o gato, nao o livro(é preto)))))

\m/afarrico disse...

Excelente domínio da arte do comentário entre parêntesis (ou não)!