meus caros,
relendo os escritos passados reparei o quão longínquo se situava a ultima ref. discográfica. Vai dai decidi escrever este post.
Acontecia que era domingo à noite e eu praticava um zapping furioso por todos os 4 canais de televisão que chegam a minha casa. Dado certo momento, reparei que estava há mais de um segundo no mesmo canal! Era o canal 2. O programa que aí se iniciava tinha como nome "Um Mundo Catita" e, não sei porque celebração, o tal canal exibia todos os episódios desta mini-série de produção portuguesa. Para meu gáudio, os episódios seriam emitidos por ordem cronológica e uns a seguir aos outros.
Embora o dia seguinte fosse de grandes provações, fiquei acordado até ao que normalmente se chama uma hora da manhã e vi os episódios todos de uma acentada.
Estais com certeza familiarizados com esta obra prima da televisão feita em Portugal. Tudo nela respira Masmorra Infernal, e o personagem principal Manuel João é um diabo a sério. A sucessão de cenas hilariantes e/ou ridiculas é de grande risibilidade e interesse, os diálogos são do melhor que se faz em todo o mundo (um vocabulário muito rico) e, claro, a banda sonora original é de top.
No seu todo a série ganha uma dimensão que não teria se porventura fosse vista episódio a episódio, personagens como o corneto ou o tony barracuda e claro o manuel joão entram assim para o convivio dos grandes do cinema português. E o que dizer da senhora amiga de manuel joão? Uma diva como nunca se viu nos ecrãs nacionais.
Devo, para finalizar, escolher uma cena preferida de todos os cinco (ou seis?) episódios e embora a emotividade me penda para a cena da águia do clube de futebol (épico!!) ("agora toda a gente te odeia pá!", "então e os gajos do porto?"), o momento alto para mim é, sem dúvida, o concerto no casamento da pessoa amada do personagem principal ("estava a brincar! já não se pode brincar?") com o movimento à Pete Townshend por sobre o bolo da noiva.
Quero uma segunda série.
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6 comentários:
Obviamente e como não poderia deixar de ser, no preciso segundo em que o Maléfico visionava a referida série, eu o fazia também num outro local, dedicando a esta obra a atenção merecida por este velho diabo que é Manuel João Vieira!
A cena da espancamento até à morte da águia do benfica e posterior perseguição por uma corja de adeptos enfurecidos é das mais bem conseguidas e hilariantes.
Mas, é nos pequenos momentos de humor cinico e caustico que se baseia a grandeza épica desta produção "low-budget". O momento do pagamento da conta no restaurante é demasiado boa, assim como o classico do despejar da sanita durante a festa do casamento.
Abaixo uma notícia recente que indicia o retorno deste velho Demónio à escuridão da Masmorra:
"Ele está de volta. Manuel João Vieira quer candidatar-se à Presidência da República, mas garante que só avançará se tiver 7500 assinaturas. Depois de, em 2001, ter ficado pelo caminho porque o Tribunal Constitucional "não quis reconhecer" as assinaturas apresentadas - segundo a sua candidatura "com o pretexto pouco desportivo de que 7500 assinaturas feitas pela mesma pessoa não tinham validade" -, o "candidato" Vieira pede agora aos portugueses que dêem uma oportunidade "a este País" e subscrevam o seu nome para a corrida a Belém. "Se não assinarem recuso-me terminantemente a candidatar-me", garante." (http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=630385)
Subscrevo todos os elogios feitos à série, que é realmente das melhores coisas em Portugal naquele registo que não é ficção nem realidade. É só mesmo Vieira. E acho que a série define a ideia que alguém por cá pode ter de uma "obra de culto". Existe um grupo de pessoas que a admiram fervorosamente e haverá certamente uma maioria esmagadora que deve odiar o Vieira. E isso também joga a favor da cena. Com o falecimento do Raúl Solnado e o Herman José nas ruas da amargura, o Vieira é bem capaz de ser o maior humorista português vivo, mesmo que sob disfarce de ser alguém que nunca deixa entender onde acaba o homem e começa o personagem. Se formos a falar de sátira, então retiro o "bem capaz" e aposto a casa no Manuel João Vieira como o grande satirista do seu tempo. Ele não faz sátira do acontecimento semanal. Vai muito além disso no retrato que faz do país.
Bem... A conversa dá pano para mangas. A história há-de reconhecê-lo. E concordo também que a série revela outras maravilhas quando transmitida em sequência (acho que foi pensada como filme tipo "Kill Bill"). Revi os primeiros episódios no domingo e deu para perceber que 85% daquilo é absolutamente antológico e os restantes 15% são parvos de uma maneira a que os incondicionais de Catita não resistem. Em termos de qualidade, quantas séries conseguem chegar a esses 85%? Acho que esse é um bom motivo para não haver segunda série. Torna a original ainda mais única e intocável.
Os meus momentos favoritos são também o da águia e o do casamento desastroso, e gosto muito do diálogo com o Médico no segundo e da troca de frase de perguntas: "Quando é que te casas, Manel? / Quando é que te divorcias?"
E muitos outros: "Foda-se, eu adoro o Bérnard!"; o brainstorm sobre celebridades gay perto da piscina e sempre que o Phil Mendrix tem uma deixa de uma só palavra.
(acho que essa notícia já tem alguns anos)
Bom blog, by the way.
Prezado Ron,
Uma vez ultrapassada a entrada deste antro, onde tudo é negro e onde os incautos encontram apenas desespero e dor entre muitas outras coisas, estou certo que encontrará aqui um espaço de maligno e violento convívio.
Agradeço a sua intervenção em nome dos outros dois titulares, que registamos e não apagaremos.
Apenas uma nota final sobre a temática da questão temporal: na Masmorra Infernal do Sr. Satanás o tempo não flui, tudo é uma constante. Eventos futuros e passados confundem-se e o presente não existe (ou existia).
Daí a natural confusão que fez, e que denotou no seu comentário sobre a idade da notícia. O facto de a mesma ter sido publicada na imprensa escrita em 2001 não faz dela menos actual e indigna de aqui ser colocada (nada é suficientemente indigno para a Masmorra).
mafarrico,
não incomode o colega ron com essas teorias espaço-temporais, logo agora que ele acabou de deixar aquele que pode muito bem ser o único comentário de jeito que já vimos na masmorra. Além disso após anos e anos de convívio com este colega, não vai ser agora que vamos começar com estas coisas.
Outras cenas que ficaram na minha mente de "Um Mundo Catita":
"Ao menos não tenho leucemia"
A cara do Manuel João quando o noivo diz em conversa "O maior artista português são os Delfins".
Os sonhos estão estupendamente realizados e as referências cinematográficas mais ou menos subtis são um regalo.
Recordo-me bem desta cena. Infernal e de um gajo se escacar a rir!
:) love!
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