Caros colegas, inimigos, entidades malignas em geral,
Muitas têm sido as oferendas musicais, humildemente depostas a nossos pés, que temos recebido na Masmorra desde que abrimos este espaço de adoração do profano e do herético, onde a auto-bajulação é mais do que uma atitude, é uma forma de vida.
Os nossos cérebros, com as suas mentes superiores e capacidades sensoriais acima da média, inebriam-se com as inovadoras torrentes musicais que fluem em quantidade e qualidade. A disseminação da palavra está assegurada e nós, embaixadores do Demo, podemos javardar à vontade, orgulhosos e com a certeza de que alguém assegurará que o nosso trabalho seja feito.
Mas é em momentos destes, que um Demónio olha para a frente e vê o trabalho que ficou para trás.
Assim proponho que façamos uma pequena viagem no tempo e recuemos ao ano terreno de 1993. Por esses dias a nossa missão era árdua. O nosso Maior andava de olho em nós e esperava resultados contundentes. Viviam-se momentos inquietantes e perspectivavam-se dificuldades, um tratado de redução de armamento assinado entre Bush (pai) e Yeltsin, a separação pacífica da Checoslováquia, a chegada de Bill Clinton perspectivava uma era de paz e entendimento no médio Oriente, os Oasis ganhavam alento e fama, Varg Vikernes dos Mayhem preso e condenado a 21 anos por assassinato, os Celtic Frost anunciam o fim da carreira e Bruce Dickinson dá o seu último concerto como vocalista dos Iron Maiden (estas duas ultimas estavam-se mesmo a ver que era só para chamar a atenção, mas enfim...).
De certa forma o optimismo e a esperança no futuro singravam por entre a massa humana e esperava-se, da nossa parte uma resposta firme e definitiva.
É neste contexto que surge Wolverine Blues.
Os Entombed já dominavam dentro da cena Death Metal com os seus dois primeiros poderosíssimos álbuns “Clandestine” e “ Left Hand Path” que apesar de inovadores, estavam muito contidos dentro do género em si, limitando assim a capacidade de arrecadar seguidores e de espalhar a Mensagem.
Mas com este seu terceiro álbum, inspirados que foram pelo bafo nojento de Satanás, os Entombed derrubaram barreiras e criaram as raízes do género musical, o Death’n’roll. Em tão pouco como 35min e 42seg, lograram destilar toda a técnica intrincada, atitude e sonoridade pulsante do Death Metal nórdico e criar um estilo totalmente novo, mais orgânico, mais real. Com muito menos riffs/min, as composições são simples mas estranhamente desconcertantes e criam uma sensação algo groove mais comum no rock do que propriamente num disco de metal.
Apesar da viragem que este álbum representou na carreira dos Entombed, o mais incrível é que a sonoridade das guitarras de Uffe Cederlund e Alex Hellid permanece inconfundível assim como o estilo da voz de Lars Petrov. Na verdade eles não mudaram, eles evoluíram sem cortes com o passado. De referir ainda o multi facetado Nicke Andersson, compositor, baterista, guitarrista, letrista, cerne da criatividade do grupo.
Mesmo para nós, críticos crueis e sempre cáusticos, é difícil destacar uma ou duas músicas. São todas excelentes! Eyemaster a abrir, Rotten Soil e Out of Hand no fecho, são os momentos mais acelerados, propícios ao headbanging e mosh desenfreado. Já os temas Wolverine Blues, Demon, Contempt, Full of Hell e Heaven's Die, trazem a tal sonoridade mais mid-tempo e Blood Song, Hollowman um compassado mais lento e arrastado.
Quanto às letras, pouco há a dizer a não ser que são gloriosas pérolas da ironia e do satanismo aplicados às problemáticas do dia-a-dia, que tanto deprimem os humanos.
“Meet the devil who is your host
Strike down what you believe in
get it done with a gun
when I'm in hell you can talk to my ghost”
“Vicious mammal
the blood is my call
pound for pound
I am the most vicious of all”
“Trembling in the balance
exploring new extremes
all sweet forms of self-destruction
coming to me in my dreams”
“No matter how low you are
there's always someone to look down upon
and it goes
on and on”
“It's fucked to hear one idiot's words
but worse to see others believe it
fucked up minds in fucked up times
it's up to you to foresee it”
A simplicidade das letras, das quais estas passagens são um bom exemplo, permite que a mensagem de desespero e frustração flua pelas mentes incrédulas, e que assim cresçam na sua sobranceria e orgulho e sejam pasto verdejante para os que executam o trabalho do Demo.
Usado com mestria e saber, este álbum foi o ponto de partida para duas negras décadas que nos permitiram rechear as nossas legiões de seguidores fiéis, que até aí se mantinham afastados de géneros musicais mais agressivos e tecnicamente virtuosos.
Para o fim deixo o texto completo do tema Full of Hell.
É raro o dia em que não recite mentalmente estes versos, em forma de mantra, que me fortalece a vontade e a inspiração.
“I've got a 24-lane highway
going straight through my head
a peace of mind like a brainstorm
and thoughts that knocks me dead
I've got sympathy for the devil
and demon is in my vein
I'm organized chaos
but don't call me stupid I'm insane
At my worst I'm at my best
wide awake but let sanity rest
I'm full of hell
all kinds of hell
I've got a heart like a graveyard
they're dying to get in
I'm from a lot of different places
and I'm full of hell and sin
I'm offended by human nature
was told the truth by someone who lied
there are times when not being human
would be a source of inner pride
In my heart and deep within
I've got it's fire under my skin”
[Hellid]
Com os melhores cumprimentos,
\m/
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4 comentários:
felicito-o por trazer a lume infernal um dos meus discos preferidos pelo qual tenho grande simpatia.
Embora já não o ouça muito frequentemente é sem dúvida um marco na minha formação como diabo e como demónio. É certo que a duração deste trabalho é curto, mas as repetidas audições a que o submeti nessa altura ultrapassaram este "defeito".
Mas!, muma altura destas, passados quase vinte anos sobre a primeira audição, devo dizer que os únicos temas que, para mim, resistiram ao erosivo passar dos anos foram, e passo a enumerar, Rotten Soil com os seus samplers e solo de bateria e Hollowman com uma das melhores linhas de guitarra de todo o sempre metálico. É verdade que o disco é um excelente disco, mas ouvir repetidamente e não pontualmente, só mesmo estas duas musicas.
Justiça seja feita ao tema titulo também não pode ficar para trás, ainda é muito bom. A versão instrumental do EP Hollowman deve ser descoberta por quem não a conhece.
Interessante que tenha apontado as liricas deste grupo com tanto interesse, eu sempre achei o ponto fraco desta banda precisamente as letras por vezes idioticas que pululam das mentes dos integrantes. Talvez não tanto nesta altura, mas nos registos mais recentes chegam a ter alguns apontamentos literários dignos de bradar aos infernos juntamente com um suspiro e pensamento "como é possivel?".
Antes de mais, cabe-me a mim agradecer-lhe por trazer ao lume da discussão, esse novo e grandioso conceito que é o "todo sempre metálico".
Partilho da sua visão sobre o papel construtor que este album teve nas nossas carreiras demoniacas.
Um demónio nunca se engana nem nunca volta com a palavra atrás, até porque nunca se compromete. Após leitura atenta do seu comentario, nomeadamente no que concerne à questão da suposta idiotice, que V/Ex.a defende estar encerrada no âmago das letras, resta-me apenas lamentar tal e dizer que afinal estou completamente de acordo consigo.
As letras são parvas e não fazem sentido nenhum.
para melhor ilustrar a minha visão algo sobranceira para as letras ridículas, que tal estudar um pouco o disco (de boa qualidade sonora) destes entombed intitulado inferno ... comece pelo inenarrável "nobodaddy".
Excelente resenha histórica desses tempos difíceis mas sobre os quais triunfamos.
Um bem-haja por este trabalho de fundo de nos fazer recordar vitórias passada, ainda que tenhamos contado com a ajuda de pujantes aliados como são estes cançonetistas de death-metal
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