quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Eagle Twin + Pombagira @ Porto Rio 02/11/2010


Uma pequena multidão de jornalistas e repórteres de imagem aguardavam pacientemente a saída do sr. Maléfico do evento de ontem no Porto-Rio, o concerto de Eagle Twin acabara à poucos instantes e era importante obter em primeira mão as impressões do mais ilustre dos espectadores.
Logo que se vislumbrou o vulto do sr. Maléfico todos se dirigiram para este ponto, os flashes em catadupa, os punhos com os microfones em riste e os costumeiros "Não faço comentários" prontamente ignorados por todos, o momento era grandioso e ninguém ia arredar pé sem saber o que Maléfico tinha a dizer sobre o assunto. Passado o caos dos primeiros momentos, logo uma pergunta se fez ouvir, mais vigorosa e firme do que todas as outras - "Sr. Maléfico, como correu o concerto? Correspondeu às suas expectativas?". Maléfico parou, olhou de frente as câmaras e acedeu em algumas palavras:
- "Foi com certeza um portentoso espectáculo, se alguém duvidasse da mestria e solidez dos grupos que hoje se apresentaram aqui, então essas dúvidas ficaram totalmente dissipadas, o que me agrada deveras e faz olhar o futuro musical com muita esperança. É verdade que a conjuntura não ajuda a um espetáculo melhor , nomeadamente o facto de a banda principal só ter um disco editado, mas os intervenientes souberam contrariar isso de forma brilhante."
Dito isto, e após conseguir avançar alguns metros por entre os muitos repórteres, ficou claro que estes ainda não estavam satisfeitos, muitas perguntas em unissono até que Maléfico decidiu dar atenção a uma mais pertinente que as demais - "Sr. Maléfico, em directo para a rádio, existiram alguns contratempos, não foi um concerto livre de contrariedades ..." . "Penso que se estará a referir ao momento em que a bateria dos Eagle Twin colapsou, foi um fait-divers a que não se deve dar grande importância.". Insistência do repórter ávido de escândalos - "Mas os Eagle Twin só têm dois instrumentos em palco ... não se pode deixar passar em claro o colapso de um deles."
- "É verdade o que diz, mas eu prefiro salientar o excelente profissionalismo do músico que contornou o problema e que, na minha opinião, faz esquecer por completo esse incidente. Alías, devo também valorizar a pronta ajuda do público nesse momento díficil o que demonstra que todos os intervenientes se encontravam empenhados em fazer deste o concerto memorável que acabou por ser. Muito boa noite, não tenho mais declarações"
Nesta altura, e já a muito custo Maléfico se acercava da viatura oficial, quando surgiu outra pergunta que não poderia ser deixada sem resposta.
- "Sr. Maléfico, como comenta os números avançados pela organização em relação à assistência de hoje à noite?".
Foi num tom mais grave e pesaroso que se ouviu a ultima resposta - "É com muita apreensão que verifiquei que a casa não estava cheia. Em momentos destes acho muito prejudicial ao país existir uma abstenção desta natureza, é certo que uma terça feira à noite é propicia a que se fique em casa a deprimir e a pensar no dia de trabalho que se segue, mas esta mentalidade tem de mudar. Anuncio, por isso, aqui e em primeira mão, a minha intenção de apresentar um projecto de lei na Masmorra, que vise criminalizar a falta de comparência a eventos desta qualidade e com bilhetes a menos de dez euros. Porque, deixemo-nos de rodeios, é disso que se trata, um crime! Boa noite a todos, não tenho mais comentários a fazer".
E assim era, davam-se por findos os comentários do Sr. Maléfico, muitos flashes e algumas, tímidas perguntas, mas já o alvo estava a desaparecer dentro da viatura e atrás da porta que se fechava. Ainda tempo para um enigmático comentário sobre a última pergunta, entendível, talvez, apenas por aqueles que se movem mais profundamente no meio musical deste país, disse Maléfico : "Olhem, perderam foi um concerto do caralhão!"

1 comentário:

\m/afarrico disse...

Que o colega normalmente se comporta como um vil réptil, esquivo e falso nos seus testemunhos, já todos sabemos e apreciamos. Agora que tenha que recorrer à reles imprensa, mesmo tratando-se de uma pura alucinação da sua, para enviar mensagens subliminares e críticas sub-reptícias aos seus colegas, é demais! É excelente! É genial! Só assim se explica a sua paciência e complacência perante tão irrequieta e mono-neuronial espécie que é o jornalista. Nos bons tempos, tenho certo que teria corrido tudo à chapada.
Terá valido a pena não ter ido testemunhar o colapsar da dita bateria, se da minha ausência tiver provido a inspiração que escureceu a sua mente e deu origem a tão reles relato.
Um demónio nunca justifica os seus actos e opções, porque nunca há justificação para os actos de um demónio, mas neste caso abro uma excepção para uma breve explicação quanto à minha ausência deste concerto “underground on the water”. Não fui porque não me apeteceu ir.