terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dress code infernal (red suite, red tie)

Caros colegas a quem esta mensagem se dirige,

Nós, os profanos representantes das forças malignas na Terra, para além de um negro sentido de humor, de uma latente maldade pérfida e de uma atroz insensibilidade às injustiças que perpetramos através dos nossos cruéis actos, somos também sobejamente conhecidos por uma extrema elegância e um saber estar sem macula. Isto e por gostar de Heavy Metal, obviamente.
Não é portanto de estranhar que alguns de entre nós, (mais uns que outros na verdade) recebamos amiúde, convites para este ou aquele evento social de gala, onde a sua presença (neste caso a minha) seja por demais apreciada. Qualquer anfitrião que se preze, aprecia ter por entre os nobres convivas, alguém que polarize as atenções com as suas observações sagazes, comentários astutos e um vasto conhecimento geral que entretenha os demais e encante o género feminino. Enfim, o verdadeiro epicentro do evento.
Foi assim que me vi mais uma vez, convidado para uma dessas tertúlias sociais da alta sociedade desta nossa cidade.
Recordo-me de ter sido informado, não sem algum desdém, de que o dress code seria “fato escuro”. Regra de etiqueta algo pretensiosa mas que este vosso colega aprecia, como a todas as regras pretensiosas que permitem que explane a sua elegância e esplendor sobre os demais.
Mas, eis que surge o dilema, o choque, o espanto.
O dito evento terá lugar na data coincidente de outro, pelo qual Mafarrico anseia há algum tempo e para o qual inclusivamente já despendeu uma avultada soma em troca do ingresso que lhe permitirá a entrada no mesmo.
Refiro-me, como já poderão ter adivinhado, ao concerto dos Black Rebel Motorcycle Club, banda de rock alternativo, ora psicadélico, ora indie, muito na linha do shoe gazing, e que acima de tudo têm um nome espectacular, razão pela qual atraíram a atenção de Mafarrico no primeiro momento.
Mas dissequemos um pouco a problemática:
O evento ao qual Mafarrico foi informado que não teria que ir se não quisesse mas que depois teria que enfrentar as nefastas consequências de tal decisão, tem início às 18h30 do dia 9 de Novembro;
O concerto dos sombrios e muito apreciados BRMC tem a hora de arranque marcada para as 21h00;
Os locais não distam mais do que mil e quinhentos e quarenta metros (aprox), o que convenhamos, apesar do dom da ubiquidade que nos caracteriza, até ajuda;
Temos portanto dois eventos quase simultâneos (duas horas e meia de permeio) e uma distância a vencer relativamente curta. Tal poderia causar a sensação, a algum demónio menos atento, que o assunto se resolveria facilmente:
18h30 - chegada ao 1º local;
18h40 - Ingestão de uma quantidade incrível de aperitivos e entradas;
19h00 - conversas de circunstância com aproximadamente todas as outras centenas de convivas;
19h50 – aplausos efusivos e continuados aos discursos a proferir pelos organizadores;
20h20 – Discurso improvisado e inflamado, perante uma plateia atónita, sobre todos os temas que ocorram no momento;
20h35 – Recepção de cumprimentos efusivos dos organizadores e vénias para os aplausos imensos;
20h50 – Saída apressada do 1º local e início de corrida tresloucada com destino ao segundo local;
21h00 – chegada sem atraso ao 2º local, momentos antes dos BRMC tomarem o seu lugar no palco;
Tudo parece fácil, não é verdade?
Mas não. Há aqui um pormenor que só demónio atento e experiente detectaria. O dress code de ambos os eventos não poderia ser mais diferente. É impossível comparecer no 1º local de trajado de blusão couro preto, t’ shirt preta e calças de ganga, assim como está fora de questão entrar de rompante nos BRMC com fato e gravata pretos e sapatinho de festa de cordão.
E sejamos realistas, não vai ser em plena corrida tresloucada, entre a Alfândega e o Hard Club, que a troca de trajes terá lugar.
Como resolver a questão, colegas? Como não perder o 2º evento sem faltar ao 1º e sem falhar com os dress codes institucionalizados...

1 comentário:

Maléfico Patético disse...

Caro colega mafarriquico,

deveras interessante este seu dilema, a roçar o ridículo diria mesmo.

Após leitura do seu texto e consequente meditar profundo. Decidi-me a tentar retirar esta inquietação de seus ombros, e devo anunciar com toda a segurança que é um problema sem solução imediata. Poderia acrescentar que é um problema sem solução ponto final.

Aceite assim a minha desinteressada sugestão de, após o ponto das 20h35 – Recepção de cumprimentos efusivos dos organizadores e vénias para os aplausos imensos - e antes de se lançar em corridas desnecessárias (e possivelmente em pelota), regressar ao ponto das 18h40 e lhe dê forte na ingestão de bebidas alcoólicas.

Quanto aos bilhetes que adquiriu para os ditos BRMC, olhe, porque não oferta-los aos seus colegas de Masmorra? Esses compinchas estão sempre prontos a ajuda-lo nestes momentos, e por certo, não se importarão de ir ao local do concerto e comportar-se de forma tão ultrajante, violenta e incomodativa de forma a que este se torne o pior concerto de sempre dessa banda o que por certo o fará sentir menos mal.

Que tal? Os amigos são para as ocasiões. Como não os tem, dê-nos a nós os bilhetes ...