sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ref discografica 666 - como não fazer uma capa

Os Iron Maiden têm um novo album.
Isto só por si na verdade, não é nada de especial. Afinal de contas já é o 26º em 30 anos, contando com os “albuns mesmo”, os “ao vivo”, os “best of” e outras coisas incriveis que a EMI se foi lembrando, para ter sempre um disco dos Maiden à venda em cada Natal.

Acontece no entanto, que os Maiden são uma banda de culto dentro do género. Os criadores da NWBHM (do metal)! Uma referência para toda uma geração de musicos, e não só, que se lhes seguiu. Uns Senhores a bem dizer!
Sendo Mafarrico um Diabo culto e atento, obviamente que domina por completo todo o universo de informações que orbita em torno do imaginario musical criado pelos IM. Assim, há que dizê-lo, um disco dos IM nunca passaria despercebido a Mafarrico, assim como Mafarrico nunca passaria despercebido aos IM (tiveram mesmo a oportunidade de me ver num efémero encontro em Vilar de Mouros, aqui há uns anos. É perguntar-lhes.).
Apesar da intensidade do impacto emocional, sempre que há novidades destes jovens diabos, se ter vindo a esbater e já não ser a mesma de há 20 anos, e de a extensa discografia IM repousar já coberta por espessa película de pó nas negras estantes da Masmorra, não é menos verdade que impera sempre alguma curiosidade na pérfida mente de Mafarrico, sempre que ecoa o pregão “novo album dos Maiden”.

Mas, prezado colega que segue atentamente estas linhas, algo diferente se passa desta feita. Siga, se tal lhe for possível, o meu raciocínio, passo a passo até à brilhante conclusão no qual culmina de forma peremptória.
Tendo entrado eu, numa enormíssima e desconhecida superfície comercial, onde humanos ignorantes adquirem rodelas musicais em troco de avultadas quantias de moeda, vejo-me confrontado com a inquietante presença de um cartaz de generosas dimensões, que anunciava a todos os passantes, o dito lançamento do novo album dos IM! Para além do referido cartaz, o cenário era composto por vastos escaparates carregadinhos de dezenas e dezenas de exemplares do anunciado cd e diversos pontos de escuta, onde, de forma gratuíta, era permitido aos mais curiosos, escutar na integra, se assim o pretendessem, todas as futuramente famosas faixas musicais.
E foi aqui que teve início a estranheza do sentimento que se apossou da minha mente. Algo de inesperado conjurou-se perante o meu olhar e preencheu o meu espírito de uma sensação que se pode resumir em total e absoluta... indiferença.

E porquê tal desprezo, se nem sequer uns breves segundos havia escutado de tão admirada e estruturalmente importante banda?
Após breves fracções de segundo de introspecção e busca pela verdade, eis que percebo o que estava errado em tão caricata situação.
Vejamos, no placard estava representado em tamanho XXL, a art-work da capa caro colega. A capa do disco.

Durante os primeiros anos de existência (digamos os primeiros 10/15), os IM, paralelemente à sua progressão/crescimento musical, souberam explorar na perfeição o conceito de conceptualização das capas dos seus albuns, usando a famosa mascote Eddie como elemento transversal que, pela mão do mítico Derek Riggs, aparecia como se mais um elemento da banda se tratasse.
De forte impacto e com excelente resultados, esta formula foi repetida uma e outra e outra vez, até se tornar chata, desinteressante e inadequada.
Claramente que os IM falharam ao não terem tido a coragem de mudar o estado das coisas. Se musicalmente, até se aceita que apesar de assentarem as suas formulas num genero estremamente bem balizado, são suficientemente progressistas e inovadores para continuarem a ser interessantes e uma referência, no que concerne ao grafismo e imagem a que continuam presos são do mais monótono e quase infantis. Compreende-se que entendam que esta seja uma forma de atrair jovens na casa dos 15 anos, para quem o Harry Potter e a saga Twilight são o que está a dar, mas não deviam descorar o impacto nefasto nos fãs com mais de 20 anos (de idade).



2010


1980

E foi assim que Mafarrico, após breve pausa de fronte do referido escaparate ironmaidiano, estugou o passo e seguiu pesarosamente em frente sem prestar mais atenção aos IM e à sua propaganda infantil. Nem mesmo a aparatosa queda de todo o cenario, causado por um ligeiro toque de cauda num dos apoios, foi motivo para o mais subtil olhar para trás.

2 comentários:

Diabolicus disse...

E a originalidade sonora também é variada ou altera-se em consonância com o desenho da capa?

Perdoai a minha ignorância neste capítulo.

De facto acho que novos animais deveriam ser usados para futuras capas, vivos ou mortos, inteiros ou em esqueletos, mas sem vestigios de sangue e já perceberam porque.

Sugiro pinguins e zebras, tornando o efeito mais a preto e branco e assim apelando a um regresso dos fãs cada vez mais idosos!!

É só uma ideia, idiota como tantas outras.

Maléfico Patético disse...

Uma bela explanação sobre o que é o ser iron maiden neste ano de 2010.

A verdade, que se encontra implícita no texto, é que existe aqui um sentimento paradoxal, se por um lado nos perguntarem se somos fãs desta banda a nossa resposta seria um rotundo e energético : "Claro!!! Sempre! Up The Irons!", por outro lado se nos perguntarem qual foi a ultima música nova que deles ouvimos a resposta seria um rotundo e energético "Claro! Não me lembro! Up The Irons!".

É lógico e dispensa explicações que a razão está do nosso lado, os Maiden equivocaram-se ao percorrerem o seu percurso histórico e .... seguiram percorrendo-o. É uma aberração que não tenham desaparecido aquando da nossa visita em 2000, utilizaram o seu estatuto para desafiar as leis universais e seguirem activos num pós-contacto masmorrifico e agora é o que se vê.

Não posso também deixar de concordar com o colega Diabolicus de que o Pinguim deveria figurar em muito mais capas do heavy metal, pelas razões óbvias que apresentou e também por outras que, não deixando de ter a mesma lógica são um pouco mais obscuras e totalmente irracionais.