sexta-feira, 27 de novembro de 2009

ref. literária - o pequeno Oskar

caros

aqui há atrasado houve um tema muito falado nas esferas masmorrentas, foi até alvo de um rel. veridíco escrevinhado pelo nosso colega, o excelentissimo mafarrico, e deu azo a muita tertúlia, discussóes e ,atrevo-me a proferir, muitos bocejos. O tema em questão era o baptismo católico dos petizes que ainda não sabem muito bem o que lhes está a acontecer.

Devem recordar-se.

Estando a ler eu um livro que se deu ao trabalho de versar um pouco sobre este assunto, e achando que o que estava escrito nessas páginas era de importância relativa para as nossas conversas já esquecidas, decidi copipastar o excerto em questão para que possais julgar novamente o assunto, agora com o conhecimento de uma experiência relatada na primeira pessoa.

Para dar alguma luz ao excerto que se segue, devo dizer que o narrador é um pequeno que desde o seu nascimento tem o discernimento e a inteligência de um vulgar adulto, e se a sua memória desses tempos é monumental só é ultrapassada pela sua vontade de partir vidro, vicio que ganhou desde muito tenra idade.

(...) insistiram em pôr-me o nome Oskar, e o Jan, na qualidade de padrinho, confirmou-o junto ao pórtico. Depois o reverendo soprou-me três vezes na testa para afugentar Satanás, foi feito o sinal da cruz, colocou-me a mão por cima, espalhou sal e voltou a proferir uns ditos contra Satanás. (...) Depois, o reverendo achou por bem dizer uma vez mais vade retro Satanas, e achava que me estava a abrir os sentidos ao tocar no nariz e nos ouvidos, quando eu tinha estado sempre mais do que desperto. Depois quis voltar a ouvir alto e bom som, e por isso perguntou : "Renuncias a Satanás? A todas as suas obras?"
Antes mesmo de eu poder abanar a cabeça - porque não tinha a minima intenção de renunciar - , Jan disse três vezes por mim: "Sim, renuncio."
O reverendo ungiu-me o peito e entre os ombros, sem que por isso eu me tivesse incompatibilizado com Satanás. (...) e quando Jan me levou até ao pórtico da igreja (...) perguntei ao Satanás dentro de mim : "Correu tudo bem?"
Satanás saltou e murmurou :"Viste as janelas da igreja, Oskar? Tudo de vidro, tudo de vidro!"


O livro é o, sobejamente conhecido, "O Tambor de Lata", do germânico Gunter Grass. Penso que já o tereis lido porventura duas ou três vezes.

1 comentário:

\m/afarrico disse...

Duas! Li a referida obra por duas vezes, e não guardei dela qualquer tipo de recordação ou memória. Mas agora que é alvo de tão ilustre ref. literária, como são todas as que o colega Mafarrico se digna efectuar, é certo e sabido que não lhe torno a pegar.

A questão levantada é, ainda assim, interessante. A iniciação na pia baptismal por parte do adversario, é um rito que apesar de brutal e sanguinário, tende a perder o seu efeito com o tempo.
Conforme atestamos neste relato verídico na 1ª pessoa, a vítima acaba por sair mais ou menos ilesa e eventualmente inebriada do efeito contrário à causa que lhe deu origem, ie, contraproducentemente pode (e deve) ver despertar nela "o Satanás dentro de nós"!