Há já coisa de um mês à atrasado, que tenho sido confrontado com a presença de um “pequeno anjinho” no meu antro de repouso, vulgo casa.
Este minusculo ser foi-me entregue por aquele que bem sabeis, com a indicação que deveria atentar na sua segurança, manter-me atento ao seu desenvolvimento e orienta-lo para que todo o seu potencial maligno se concretize em realidade num prazo nem muito curto, nem muito longo. Tal mensagem deixou-me confuso, devo admitir. Ainda mais à medida que observei como irradia uma imagem de ternura, transmite uma paz a todos os circundantes que não conseguem deixar de balbucinar palavras como “que fofinho”, “que coisa tão rica” ou mesmo o classico “tudo o que é pequenino é bonito”… Isto enquanto fazem tons de vozes e movimentos com a cabeça mais susceptíveis de serem visionados numa qualquer sessão de desenhos animados num sábado de manhã (eu não vejo, mas ouvi dizer...).
Andava portanto intrigado. Porque razão, me teria sido indigitado a mim Mafarrico, demónio com provas dadas, a missão de tomar conta deste pequeno anjo? Senti que tal era de alguma forma redutor para a minha estirpe e ponderei a hipótese de reclamar perante as hierarquias superiores.
Mas, caros colegas, imaginem o brutal impacto que senti quando, em dado momento, percebi os negros contornos do plano do nosso Maior!
O aspecto angélico desta minuscula entidade não passa de um astuto disfarçe, congeminado nos mais profundos ciclos do Inferno. Trata-se na realidade de uma cruel criatura das trevas e que por tal manifesta a sua verdadeira natureza pela calada da noite quando todos dormem!
Ora bem, todos menos eu! Desde que o tomei à minha guarda que deixei de saber o que é uma longa e reconfortante noite de sono. O meu estado actual metamorfoseou-se da dignificante preguiça e languidez habituais para um cansaço, mais vulgarmente associado a esses que trabalham, o que muito me envergonha, devo admitir.
A criatura consegue a proeza de ingerir alimentos em ciclos regulares de 3 horas, sempre acompanhados das consequentes excreções, da remoção das quais sou igualmente responsavel! E o que acontece se houver atrasos ou falhas no processo? O Ser abre as suas guelas e delas saem os mais desconcertantes urros e grunhidos, que nos causam o maior dos desconfortos e nos fazem redobrar os nossos esforços para a manter saciada e envolta no mais absoluto dos confortos.
Para aumentar o desespero que me assola, noto de dia para dia (ou melhor de noite para noite) que o vil ser se desenvolve (cresce) a uma velocidade extremamente lenta! Quer isto significar que tardarão ainda umas longas décadas, até que ganhe as suas asas infernais e se torne independente dos meus préstimos e vassalagem. Até lá, caros colegas, receio que as minhas energias malignas, que se esvaem a olhos vistos, não sejam suficientes para muitas mais missões de índole satânica que tão bem tenho vindo a praticar até à data.
Aguardo os V/ prezados comentários e sugestões,
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